Comunistas em luta contra o imperialismo na Grécia

Por KKE, via Rizospastis, traduzido por Marcella Torres

Em resposta a uma declaração emitida pelo RCWP após o 22º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários realizado em Havana, a seção de Relações Internacionais do CC do KKE observa o seguinte:

“Lemos, com pesar, a declaração do Partido Comunista dos Trabalhadores da Rússia (RCWP) após o 22º Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários (EIPCO) em Havana. Acreditamos que está se engajando em outro ataque, em um espírito não camarada ou, pelo menos, crítico, contra o KKE, o Partido Comunista do México, o Partido Comunista dos Trabalhadores da Espanha e o Partido Comunista da Turquia que lideraram a emissão da Declaração Conjunta de 43 Partidos Comunistas e Operários e 30 Organizações da Juventude Comunista. A Declaração Conjunta condenou a guerra imperialista na Ucrânia com base em critérios de classe e comunistas, como uma guerra entre os EUA-OTAN-UE e a Rússia capitalista.

A essência da posição dos Partidos Comunistas e das Organizações da Juventude Comunista contra a qual o RCWP se dirige é a condenação de ambos os lados envolvidos na guerra que está sendo travada na Ucrânia e a ênfase na necessidade dos povos erguerem a bandeira de sua própria resistência e luta, separando-se da competição de suas classes burguesas e de seus representantes políticos, independentemente de seu disfarce. Nesse sentido, condenamos a postura agressiva dos EUA, da OTAN, da UE e do governo ucraniano já desde 2014, bem como a inaceitável intervenção militar da Rússia na Ucrânia.

A declaração do RCWP oculta fatos e posicionamentos ou os apresenta de forma tendenciosa. A verdade é que nosso desacordo atual com o RCWP é profundamente classista, uma vez que o RCWP e sua resolução conjunta com o Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) e o PC da Ucrânia apoiam as aspirações da Rússia capitalista na guerra imperialista. O RCWP acusou o KKE e outros PCs de oportunismo, enquanto hoje colabora nesta guerra com partidos na Rússia e na Ucrânia que já chamou de ‘corrompidos’ e ‘oportunistas’.

Consideramos que o posicionamento dos PCs em relação à guerra, livre de influência nacionalista, é uma questão desafiadora e estrategicamente crucial.

A política seguida pela liderança do RCWP leva-o inclusive a ações provocativas, como aquela direcionada contra a União dos Comunistas da Ucrânia. Tem como alvo este partido porque ele divergiu da sua posição ao fazer uma análise de classes, caracterizou a guerra na Ucrânia como imperialista, e assinou a Declaração Conjunta de 43 Partidos Comunistas e Operários e 30 Organizações da Juventude Comunista.

A postura do RCWP hoje é marcada pela escolha de sua liderança em apoiar a política do estado russo e do governo russo; aliando-se à burguesia russa, adotando o seu pretexto de travar uma ‘guerra antifascista’, enquanto, na prática, milhares de crianças do povo russo e ucraniano estão sendo mortas devido à competição entre ‘dois ladrões’ pela exploração dos recursos geradores de riqueza, controle dos mercados e aquisição de vantagens geopolíticas.

A posição de que a burguesia russa, seu estado e o governo de Putin salvarão o povo da Ucrânia e Donbass do fascismo é infundada e enganosa. Oculta o fato de que o fascismo é uma criação do capitalismo e dá cobertura às forças da contrarrevolução que difamam a Revolução Socialista de Outubro e a construção do socialismo na União Soviética, inclusive glorificando filósofos defensores do fascismo ou recorrendo a um anticomunismo grosseiro, como o presidente Putin tem feito repetidamente.

A conclusão histórica que permeia as guerras imperialistas é provada mais uma vez: os PCs que se alinham às classes burguesas e servem aos seus objetivos estratégicos estão objetivamente direcionados contra os interesses dos povos.

Em particular, em relação ao apoio do RCWP ao discurso do Primeiro-Secretário do Partido Comunista da Ucrânia, P. Symonenko, no 22º EIPCO, e a alegação de que os 4 PCs que tomaram a iniciativa da Declaração Conjunta deveriam levar em consideração os posicionamentos do PC da Ucrânia, queremos observar o seguinte:

É claro que cada PC, com base nos princípios marxistas-leninistas, tem a obrigação de fazer a sua própria análise sobre questões tão cruciais e de se posicionar sobre uma guerra que já dura há 8 meses, com possibilidade de se generalizar e o potencial uso de armas nucleares. No entanto, a responsabilidade de cada PC realizar uma análise abrangente e posicionar-se orientado pelos princípios de classe não nega a responsabilidade de estudo e consulta coletiva.

O KKE tentou entrar em contato com o PC da Ucrânia e conseguiu falar várias vezes por telefone com a seção de Relações Internacionais, perguntando sobre a posição deste partido em relação à guerra imperialista. No entanto, a resposta que sempre recebemos foi que o PC da Ucrânia não emitiu uma declaração e ainda não tomou uma posição. A guerra está sendo travada há oito meses e este partido não enviou uma declaração para informar os partidos comunistas nem enviou uma declaração à SolidNet.

A primeira declaração pública do PC da Ucrânia é aquela feita durante o 22º EIPCO em Havana, por meio do discurso proferido por P. Symonenko, que se aliou à burguesia russa e, nesse sentido, atacou o KKE.

O RCWP está ocultando a verdade. Também oculta o que o representante do KKE apontou em sua contribuição em resposta ao discurso agressivo do Primeiro-Secretário do PC da Ucrânia no 22º EIPCO.

Isto é, que o governo ucraniano tem caracterizado os quadros do KKE como terroristas e personae non gratae neste país. Eles foram colocados em uma lista de indesejados devido ao fato de que em outubro de 2014 eles visitaram Donbass durante as eleições em Luhansk e Donetsk e expressaram solidariedade aos comunistas, ao povo ucraniano e ao povo de Donbass.

Além disso, o KKE visitou Kiev e esteve ao lado do PC da Ucrânia em maio de 2015, quando as celebrações do Dia do Trabalhador foram proibidas. Um de seus parlamentares visitou Kiev em novembro de 2015 e esteve ao lado do PC da Ucrânia no julgamento anticomunista.

Ao longo dos anos, o KKE tem condenado de forma resoluta as intervenções dos EUA, da OTAN e da UE na Ucrânia, assim como os governos ucranianos, as forças fascistas e pró-fascistas. Além disso, tem denunciado a perseguição aos comunistas por meio de intervenções contínuas na embaixada ucraniana em Atenas e no Parlamento Europeu.

O KKE se recusou a participar da reunião do parlamento grego em abril de 2022, onde o presidente da Ucrânia, Zelensky, dirigiu-se a todos os outros partidos. Nosso partido denunciou o governo grego, o presidente ucraniano e os fascistas do Batalhão Azov.

Isso ocorre porque o KKE tem princípios e expressa sua solidariedade internacionalista em todas as situações; no entanto, isso foi ‘esquecido’ pelo RCWP e pelo PC da Ucrânia.

Nosso partido tem lutado há anos contra os EUA, a OTAN e a UE; contra toda intervenção imperialista. Luta diariamente contra as bases dos EUA na Grécia e o envolvimento dos governos gregos nos planos EUA-OTAN. Luta contra os objetivos e as aspirações da burguesia grega. Ao mesmo tempo, com base nos princípios comunistas, opõe-se aos objetivos da burguesia russa e do estado russo, denunciando a invasão inaceitável da Rússia na Ucrânia e a violação de sua integridade territorial, revelando os pretextos enganosos que eles usam para enganar e manipular os povos.

Reiteramos que os PCs que se alinham à burguesia interna e à burguesia invasora, não têm desculpas; eles violam os princípios comunistas e carregam pesadas responsabilidades.

A Declaração Conjunta de 43 Partidos Comunistas e 30 Organizações da Juventude Comunista, que ressalta que ‘O interesse da classe trabalhadora e das camadas populares exige que fortaleçamos o critério de classe para analisar os acontecimentos, traçando nosso próprio caminho independente contra os monopólios e as classes burguesas, para a derrubada do capitalismo, para o fortalecimento da luta de classes contra a guerra imperialista, para o socialismo, que continua tão oportuno e necessário como sempre’ assume maior significado nos dias de hoje.”

Publicado em Rizospastis – Órgão do CC do KKE em 12–13/11/2022

Nos últimos 8 meses, o KKE organizou dezenas de manifestações contra a OTAN e o envio de armas e tropas para a guerra imperialista na Ucrânia. {Mais fotos disponíveis no site}

25.02.2022. O KKE realiza a primeira manifestação de massas em Atenas contra a guerra imperialista e a participação da Grécia nessa. Destaca o caráter injusto e imperialista da guerra e conclama os povos a se recusarem a tomar partido entre dois ladrões.

O deputado do KKE e vice-presidente do parlamento grego, G. Lambroulis, está na ‘lista de indesejados’ das autoridades reacionárias da Ucrânia, juntamente com outros quadros do KKE, porque visitou Donbass em 2014 e expressou solidariedade com o povo de Donbass e com a Ucrânia como um todo.

01.05.2015. As autoridades reacionárias da Ucrânia proíbem o evento do 1º de Maio. O KKE, respondendo a um pedido do PC da Ucrânia, envia uma delegação a Kiev. Na foto acima, a delegação do KKE (G. Marinos, E. Vagenas) e o representante do PC português no ato público realizado em Kiev.

Abril de 2022. O KKE foi o único partido que não participou da festa organizada pelo governo grego no parlamento, onde o Presidente da Ucrânia, V. Zelensky, e um fascista do Batalhão Azov com origem grega proferiram um discurso. O secretário-geral do CC do KKE, D. Koutsoumbas, logo em seguida declarou: “Estamos orgulhosos de que os bancos do KKE estavam vazios quando os outros partidos aplaudiram Zelensky e os nazistas do Batalhão Azov”.

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