Restaurando a esperança para as mulheres do Iraque

Por Houzan Mahmoud, via La Bataille Socialiste, traduzido por Larissa Carolino

Com ocasião de sua presença em Paris, convidada pela associação “Solidarité Irak”, Mahmoud responder perguntas de Christian Grosz e Gilles Dilun para a revista Rougue, órgão da extinta Ligue Comuniste Révolutionnaire de France, que as publicou como “Redonner l’espoir aux Irakiennes. Entrevista com Houzan Mahmoud, OLFI”, em seu número 069 de 17 de junho de 2004.


Qual a situação do povo Iraquiano e principalmente das mulheres frente as tropas de ocupação?

Houzan Mahmoud: A população se vê em confronto as forças de ocupação, as milicias islamistas e os remanescentes das forças baathistas. A guerra provocou a queda do regime de Saddam, mas nenhuma outra forma de governo o substituiu. A vida e o tecido social tem sido totalmente desorganizada. O povo carece de tudo: alimentação, eletricidade, cuidados sanitários, …

Sob o regime baathistas, as mulheres não estavam protegidas, mas haviam conquistado direitos básicos: direito de estudar, direito de trabalhar, iam a escola e a universidade. Desde o começo da ocupação, estão perdendo esses direitos básicos. Algumas se veem obrigadas a se prostituir.

Os islâmicos se impõem pelo terror. Dispõem de armamento importante e querem fazer reinar uma ordem social reacionária, baseado na Sharia, tentando desviar em seu benefício a raiva legitima de uma população contra os ocupantes. Já, nas cidades do sul, obrigam as mulheres a usar o véu. Em Bassora, a sharia está se impondo a população. É a ocupação responsável de uma situação que o país nunca havia conhecido antes. O imperialismo está invadindo o Iraque, pretendendo reestabelecer a democracia. Na realidade, isso se traduziu para os trabalhadores, as mulheres e os desempregados na miséria, repressão e torturas ignóbil decididas pelo mais alto nível da administração de Bush.

Como foi criado a Organização para a liberdade das mulheresm no Iraque (OWFI)? Quais são os seus objetivos?

Houzan Mahmoud: Constituída em junho de 2003, a OWFI conta com cerca de 500 mulheres -e homens- em Bagdá, com filiais em várias cidades. Tem por objetivo organizar as mulheres nas fabricas, nas universidades, nos bairros, prioritariamente em bairros mais pobres. Organiza reuniões de formação, de discussões, comícios e manifestações. As condições de segurança são muito variáveis. Nunca se tem certeza se sairá viva de um comício. Militantes pela defesa dos direitos das mulheres, como a dirigente Yanar Mohammend, são vítimas de uma fátua que as condena a morte. A OWFI abriu casa de mulheres, residenciais, em Kirkuk e Bagdá, a fim de permitir que as mulheres maltratadas ou ameaçadas de morte por sua própria família ou pelas milicias islâmicas encontrem uma proteção. Apesar dessas difíceis condições, em 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, mil mulheres desfilaram em Bagdá com bandeiras e cartazes vermelhos, uma delas representando uma mulher com os cabelos ao vento. Porém, oficialmente, o 8 de março não existe no Iraque. O Conselho de Governo formado pelas tropas de ocupação substituiu pela celebração do nascimento de Fatima Zora, filha do profeta!

Que situação atravessam as lutas sociais contra os exercitos de ocupação?

Houzan Mahmoud: Trazem sanções econômicas desde a ocupação, há muitos desempregados no Iraque. O sindicato dos desempregados, que reúne cerca de 130.000 pessoas, reivindica o direito ao trabalho e um subsidio de desemprego. Durante o mês de agosto, organizaram um protesto de quatro semanas em frente à sede da autoridade ocupante em Bagdá, reprimida conjuntamente pela polícia do Iraque e pelas tropas de ocupação. Recentemente, em Nassíria, os trabalhadores impediram as milicias islâmicas de se apropriarem das fabricas, apesar das ameaças de morte.

São os empregos das mulheres os mais ameaçados, nos bancos, onde são maioria, estão se organizando em sindicatos para defender seus empregos. O sindicado dos desempregados e a Federação de Conselhos e de Sindicatos dos Trabalhadores elaboraram e defenderam uma proposta de lei trabalhista que garante a todos os trabalhadores (ocupação de fabricas, piquetes de greve, pagamento de dias de greve, etc.). As greves são frequentes no Iraque (os trabalhadores do couro, da Companhia de Gás do Norte, dos cigarros Al Nasir, etc.), mas são totalmente boicotados pela mídia. Em Samawa, ao contrário do que dizem os meios de comunicação que reproduziram as informações da coalisão, não foram os xiitas que se manifestaram, mas os desempregados que exigiram comida. Eles foram assassinados por soldados da coalisão.

Você é um membro do Partido dos Trabalhadores do Iraque (WCPI). Conte-nos sobre sua luta política.

Houzan Mahmoud: O WCPI se formou após a primeira Guerra do Golfo, de militantes marxista-leninistas. Ilegal sob Saddam, abriu escritórios na maior parte das cidades após sua queda, não há atualmente nenhuma outra organização marxista que construa organização de base da classe trabalhadora. O OWFI foi criado na sua origem por três mulheres do WCPI. Temos contatos no exterior com várias organizações de extrema esquerda, e as vezes com dificuldade pois algumas tem ilusões sobre o papel progressista dos islâmicos contra o imperialismo. Hoje, devemos organizar a solidariedade internacional com a classe trabalhadora e o povo iraquiano. É vital tornar conhecido o que realmente está acontecendo no Iraque. Temos que dar esperanças.

Como vê o futuro do povo iraquiano após a saída das tropas de ocupação?

Houzan Mahmoud: Espero que o movimento progressista seja forte o suficiente, que a classe trabalhadora seja forte o suficiente e esteja suficientemente organizada para resistir aos islâmicos e impor suas próprias soluções. Mesmo que seja difícil para os trabalhadores conseguirem armas, o WCPI os incentivou a armar-se para se defender, contra os ocupantes, mas também contra os terroristas islâmicos e os baathistas. Os grupos islâmicos são reacionários, não progressistas. Não querem uma solução progressista no Iraque. Tem profundo desprezo pelos trabalhadores e pelas mulheres. O povo iraquiano recusa a ocupação americana, mas a maioria não que um Estado islâmico

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