Para além do “capitalismo racial”: por uma teoria unificada do capitalismo e da opressão racial

Por Charlie Post, via The Brooklyn Rail, traduzido por Gustavo Guimarães*

N.T.: Charlie Post é professor de Ciências Sociais, Serviços Humanos e Justiça Criminal na Universidade da Cidade de Nova York; um exímio pesquisador de história sociológica, especialmente da gênese e desenvolvimento do capitalismo, das relações sociais de raça, das relações de trabalho e seu desenvolvimento; e um histórico militante socialista. Para mais escritos seus (em inglês), aqui e aqui

Esse texto é uma adaptação do capítulo de conclusão de seu livro The American Road to Capitalism (em tradução livre: A Via Americana ao Capitalismo) que, além disso e ao mesmo tempo, enseja adentrar nas discussões levantadas no último período de lutas radicais nos EUA, sobretudo sobre a relação entre raça e classe — ou, melhor, entre racismo/opressão racial e capitalismo. Aqui, o autor combate tanto as teses que defendem uma relação “acessória”, “oportunista” ou “contingente” entre raça e as relações de produção capitalistas, quanto a tese do “capitalismo racial”: explicação cada vez mais popular nos meios antirracistas radicais, mas que acaba reproduzindo uma lógica fragmentária que falha em compreender as raízes essenciais da raça e o capitalismo em si, como totalidade contraditória e articulada de relações sociais. O artigo foi publicado originalmente em Brooklyn Rail. As notas do autor, do texto original, estão indicadas por números em colchetes. As notas da tradução, por letras com asterisco. Essa tradução foi feita com a autorização do autor do artigo original.


O levante impulsionado pelo assassinato de George Flyod pela polícia em Minneapolis colocou novamente a questão racial no centro da política nos EUA. Enquanto a direita nega enfaticamente a existência do racismo e defende mais repressão contra os que protestam contra a violência policial, a esquerda — tanto a liberal quanto a socialista — está lutando para lidar adequadamente com a rebelião popular. Para os liberais, o problema é simplesmente uma questão de “falta de diversidade” — é que a polícia, as classes médias, as lideranças corporativas estadunidenses e o establishment político não “refletem” a população como um todo. Os liberais esperam desvirtuar essas lutas, como fizeram com aquelas dos anos 1960 e 1970, promovendo uma nova classe média não-branca sem tratar ou resolver a pobreza e a insegurança crescentes dos trabalhadores não-brancos. Como Asaid Haider [1] argumentou, os neoliberais transformaram a “política identitária” de um ataque contra o racismo, o sexismo e o capitalismo para uma demanda por diversificação da elite política e econômica, sem interferir minimamente nas desigualdades massivas de riqueza e renda. 

A esquerda socialista também está tentando se sincronizar com os novos eventos. A principal organização da esquerda estadunidense, o Democratic Socialists of America (Socialistas Democráticos da América, de sigla DSA), foi pega de surpresa por essas novas lutas, e tem tido dificuldade em se deslocar da rotina da política eleitoreira do Partido Democrata para se engajar na organização de um movimento contínuo contra o racismo e o capitalismo [2]. Alguns no DSA falharam em acolher as demandas mais radicais da revolta — pelo desfinanciamento, desarmamento e dissolução da polícia — e, em vez disso, argumentaram por uma campanha continuada ao redor de demandas “universais” por melhores salários (incluindo os da polícia) e mais verbas para os serviços públicos [3]. Alguns na esquerda, que querem transcender tanto o identitarismo neoliberal quanto o reducionismo de classe, avançaram na ideia do “capitalismo racial”. A ideia de que o capitalismo e o racismo estão interligados pode ser traçada até Marx, através dos trabalhos de Eric Williams, Oliver Cromwell Cox, e, mais recentemente, Cedric Robinson; e é utilizada, hoje, para defender uma política que fomente a organização tanto contra a opressão racial quanto a exploração de classe. [4] 

Em um post recente no site Dissent, Michael Walzer admite estar “intrigado” pelo termo “capitalismo racial” [5]. Enquanto reconhece que as histórias do capitalismo e do racismo coincidem nos Estados Unidos, Walzer afirma que nem todos os capitalismos envolvem racismo. Ele argumenta que “a forma de capitalismo patrocinada pelos comunistas chineses é obviamente não-racial”, porque muçulmanos perseguidos são “caucasianos” e todos os trabalhadores que Friedrich Engels estudou em Manchester em 1844 eram brancos. Como “o capitalismo é o explorador universal”, ele é “cego quanto à cor” — “qualquer trabalhador disponível servirá”. Então, “capitalismo e racismo precisam ser analisados separadamente… a sobreposição é circunstancial, não necessária”. 

O argumento de Walzer sofre de dois problemas. Primeiro, ele reduz o racismo — a noção de que a humanidade é dividida em grupos distintos, com características imutáveis que tornam um grupo inerentemente superior, e os demais inerentemente inferiores [7] — a diferenças fenotípicas. Como o marxista britânico Satnam Virdee defendeu, a análise de raça precisa ir além de entendê-la como “um fenômeno codificado por cores, para incluir outras modalidades de racismo” [8], como o racismo anti-irlandês e o racismo antissemita. Assim como os irlandeses eram racializados como parte de uma raça “céltica” inerentemente inferior na Grã-Bretanha dos séculos XIX e XX, as diferenças entres chineses han dominantes e os muçulmanos uyghur são racializadas — feitas essenciais e imutáveis, permanentes. Em segundo lugar, e de certa forma mais profundamente, Walzer e outros “reducionistas de classe” confundem as pré-condições históricas para a emergência do capitalismo com os efeitos necessários e inevitáveis da reprodução do capital via acumulação e concorrência. Eles são, então, incapazes de explicar a persistência universal da desigualdade racial entre as pessoas trabalhadoras sob o capitalismo [9]. 

Infelizmente, as tentativas de mobilizar a noção de “capitalismo racial” para defender uma relação necessária, em vez de contingente, entre capitalismo e racismo, feitas pelos críticos de Walzer, reproduzem a separação analítica entre racismo e capitalismo. Em uma resposta espirituosa a Walzer, Olúfẹ́mi O. Táíwò e Liam Kofi Bright utilizam dos trabalhos de Cox e Robinson para demonstrar como capitalismo e racismo estão entrelaçados. Enquanto tanto Cox quanto Robinson adotam o problemático “modelo da comercialização” para explicar o surgimento do capitalismo, onde ele emerge naturalmente da expansão do comércio [11], suas perspectivas sobre a relação entre capitalismo e racismo são fundamentalmente incompatíveis. Cox afirma — corretamente, na minha visão — que o racismo, como uma forma específica de diferenciar seres humanos, se desenvolveu com as relações capitalistas de propriedade e é uma característica necessária desse sistema. Robinson, pelo contrário,

sustenta que o feudalismo europeu já era “racializado”, bem antes da emergência do capitalismo. Assim como as teorias contemporâneas da interseccionalidade, onde raça e classe são tratados como sistemas separados, mas interligados, de opressão [12], a noção de “capitalismo racial” de Robinson enxerga a relação entre racismo e capitalismo como historicamente contingente — se o capitalismo houvesse surgido fora da Europa, o racismo não teria sido uma de suas características necessárias. 

A alegação de Robinson de que o racismo existia na Europa antes do surgimento do capitalismo é baseada numa confusão fundamental entre os modos capitalistas e pré-capitalistas de diferenciação dos seres humanos. Na Antiguidade Clássica e no feudalismo, os humanos diferenciavam-se uns aos outros por categorias como religião (“pagãos e fiéis”) e comunidades de parentesco (“estranhos e vizinhos/parentes”). Ambas as categorias tendiam a ser altamente flexíveis e variáveis através de conversão, adoção, casamento e procedimentos similares. Não havia necessidade da noção de divisões inerentes, fixas e imutáveis entre seres humanos, porque a desigualdade social estava legal e judicialmente inscrita nas relações de classe pré-capitalistas. Em modos de produção baseados na servidão, escravidão e outras formas de coerção legal, era presumido que a desigualdade fosse a condição natural da humanidade. Apenas com o capitalismo nós vemos o nascimento da igualdade jurídico-legal no mercado de trabalho; e a desigualdade substantiva de capital e trabalho na produção capitalista requer a invenção da raça. 

É verdade que uma forma de proto-racismo surgiu na Península Ibérica antes do surgimento do capitalismo. No final do século XIV e no início do século XV, as monarquias absolutistas em Castela e Aragão, temendo que judeus e muçulmanos convertidos mantivessem secretamente seus rituais religiosos, definiram que apenas os cristãos de “sangue puro” seriam elegíveis para cargos venais [13]. Mas foi apenas com a emergência da escravidão africana, na Virgínia do final do século XVII, que ocorreu a cristalização da raça. Até então, embora a escravidão já existisse há milênios, ela era apenas uma das inúmeras formas de trabalho não-livre (servidão, colonato, etc.), e não exigia nenhuma explicação especial. Na esteira da rebelião de Bacon de 1676, a servidão por contrato [indentured servitude] e outras formas de trabalho não-livre que haviam trazido europeus para as colônias desapareceram na Virgínia, deixando não-livres apenas os escravos de ascendência africana até o início do século XVIII. Aqui, pela primeira vez, a liberdade e a igualdade perante a lei (formais) pareciam ser a condição “natural” dos seres humanos — exigindo uma noção de diferença intrínseca e permanente para explicar porque os africanos permaneceram não-livres [14]. A raça e o racismo não desapareceram com a abolição da escravidão do Novo Mundo no século XX: ao invés disso, generalizaram-se pelo mundo capitalista. Os termos específicos da ideologia racista — quais características específicas tornavam alguns grupos superiores e outros inferiores — evoluíram com o movimento das relações de classe e das diferenciações. Enquanto os escravos racializados eram vistos como ingratos, indignos de confiança e estúpidos, os trabalhadores assalariados racializados tornaram-se empregados indisciplinados, irregulares e refratários. No mundo colonial, a suposta “incapacidade” dos povos nativos de “melhorar” a agricultura justificava a apropriação de terras e recursos pelos colonos [15].

Mais importante ainda, a reprodução das relações sociais capitalistas de propriedade através das “leis naturais” [dull compulsions] do mercado [a*] — o que Marx chamou de lei do valor — torna a relação entre capitalismo e racismo necessária, e não histórica ou teoricamente contingente. Colocado de forma simples, a noção de “capitalismo racial” é redundante — não existe capitalismo “não-racial”. Muitos marxistas não entendem a relação necessária entre capitalismo e racismo porque presumem que a operação da lei do valor deve homogeneizar o trabalho, criando processos de trabalho genéricos, igualando lucros e salários entre e dentro das indústrias [16]. Embora esta concepção da teoria do valor, da acumulação e da competição de Marx seja bastante difundida, ela não reflete nem a teoria madura de Marx nem a história real do capitalismo. A reprodução do capitalismo não produz homogeneidade, mas heterogeneidade entre capitalistas e trabalhadores, dentro da classe e entre as classes [17] [b*]. As noções de que a acumulação e a concorrência deveriam homogeneizar as condições de produção, os processos de trabalho, as taxas de salário e semelhantes são, em última análise, derivadas da visão idealizada de concorrência da teoria econômica neoclássica — a “concorrência perfeita”. A concorrência capitalista real, ao longo da história deste modo de produção, nunca correspondeu ao mundo dos sonhos da “concorrência perfeita”. 

A concorrência e a acumulação reais realizam-se através de constantes inovações tecnológicas na forma de uma progressiva mecanização da produção, diferenciando capital e trabalho de duas maneiras. Primeiro, o processo de mecanização em um ramo da produção leva uma parte da força de trabalho a se tornar dispensável do ponto de vista do capital, e consequentemente, ser dispensada [c*]. Essa constante reposição do que Marx chamava de “exército de trabalho de reserva” (ou “exército industrial de reserva”) [reserve army of labor], a massa de desempregados e subempregados, não apenas mantém os salários dentro dos limites da lucratividade do capital, mas cria a possibilidade de processos de trabalho, taxas de lucro e salários heterogêneos entre os diferentes ramos da indústria. Enquanto as indústrias cada vez mais intensivas-em-capital desfrutam de maiores lucros e da possibilidade de maiores salários, a constante reposição do exército de reserva permite a constante reprodução das indústrias intensivas-em-trabalho com menores lucros e menores salários. Simplificando, o “trabalho suado” (menos mecanizado) sob o capitalismo não é nenhum tipo de resquício atávico [atavistic hangover] de formas anteriores de produção, mas a consequência necessária da contínua, e necessariamente desigual e combinada, mecanização da produção [18]. A constante geração do exército de reserva, com trabalhadores experimentando diferentes níveis de precariedade e desespero, produz trabalhadores que têm poucas outras opções que não seja aceitar os piores trabalhos — Setores intensivos-em-trabalho e de baixos salários podem evitar o aumento dos salários se alimentando desses estoques de trabalhadores desesperados. 

Em segundo lugar, a concorrência dentro das e entre as indústrias necessariamente diferencia os processos de trabalho, taxas de lucros e salários. Os capitalistas estão em posição de adotar o capital fixo (meios de produção) mais avançado quando eles entram em um ramo de produção ou abrem novas unidades produtivas. Entretanto, “a presença de investimento em capital fixo” torna impossível que essas novas técnicas sejam “imediatamente adotadas por todas as empresas do setor […] Ao invés de criar empresas idênticas, a concorrência, portanto, cria uma contínua re-diferenciação das condições de produção [19]. De maneira simples, tanto a acumulação quanto a concorrência produzem e reproduzem diferenciação entre os trabalhadores — a matriz social para a produção e reprodução da raça e do racismo [20]. A raça é a consequência necessária e não-intencional da concorrência e acumulação capitalistas: raça e classe são co-constituídas sob o capitalismo [21]. 

As relações de produção capitalistas dão origem a uma experiência vivida contraditória para tanto capitalistas e trabalhadores [22]. De um lado, o capitalismo é a primeira forma de trabalho social na história humana onde a exploração acontece através do que aparece como a troca de equivalentes no mercado de trabalho [23]. Ao invés de depender da dominação pessoal ou outras formas de coerção extra-econômica, capitalistas e trabalhadores se confrontam no mercado de trabalho como possuidores de mercadorias distintivas — os capitalistas possuindo dinheiro, e portanto os meios de produção, e os trabalhadores, sua força de trabalho. Os capitalistas geralmente compram a capacidade de trabalho dos trabalhadores por seu valor, as condições sociais historicamente constituídas de reprodução da força de trabalho dos trabalhadores. À medida que os capitalistas consomem força de trabalho — colocam os trabalhadores para trabalhar em processos de trabalho sob o comando do capital —, os trabalhadores são obrigados a produzir um valor que exceda o valor de seus salários. 

A compra e venda de força de trabalho dá origem a um vocabulário muito específico da experiência vivida que espontaneamente disfarça a exploração e promove a noção da igualdade entre todos os seres humanos. Em Salário, Preço e Lucro [Value, Price and Profit] (1865) [24], Marx afirmou que, sob a escravidão, todo trabalho aparecia como não-pago, e, sob a servidão, a divisão entre trabalho pago e não-pago era claramente visível na divisão de culturas ou colheitas e trabalho. Em contraste, sob o capitalismo “até mesmo o trabalho não-pago parece ser trabalho pago” porque “a natureza da transação inteira é completamente mascarada pela intervenção de um contrato…”. No Capital (1867), Marx identificou como isso produz uma experiência vivida específica: 

“A esfera da circulação ou troca de mercadorias, em cujos limites ocorre a venda e compra da força de trabalho, é, de fato, um verdadeiro Éden dos direitos inatos do homem. É o domínio exclusivo da Liberdade, Igualdade, Propriedade e Bentham. Liberdade, porque tanto o comprador quanto o vendedor de uma mercadoria, digamos, força de trabalho, são determinados apenas por seu livre-arbítrio. Eles firmam o contrato como pessoas livres, que são iguais perante a lei. Igualdade, porque cada um se relaciona com o outro, como um simples possuir de mercadorias, e eles trocam equivalente por equivalente. Propriedade, porque cada um dispõe do que é seu. E, Bentham porque cada um visa apenas seus próprios interesses.”[25] [d*

Entretanto, assim que deixamos o mundo idealizado da troca de mercadorias, entramos no mundo real da produção, acumulação e concorrência capitalistas — o mundo real da exploração. O capitalismo necessariamente produz desigualdades substanciais — entre capital e trabalho, dentro da classe trabalhadora, e entre diferentes sociedades na economia mundial capitalista. Enquanto antes do capitalismo a desigualdade era pressuposta como “natural”, no capitalismo ela precisa ser explicada, de uma forma que seja compatível com a noção de que todos os seres humanos devem ser livres e iguais. Isso requer uma re-naturalização da diferença através da divisão da humanidade em grupos com características imutáveis, fazendo alguns superiores e outros inferiores. A única forma de dar sentido e coerência, para trabalhadores e capitalistas, a uma sociedade onde tudo aparenta ser igual — mas existe desigualdade real e concreta — é retirando de algumas pessoas a condição de “plenamente humanas”. 

As diferenciações racial e de gênero são as maneiras mais comuns de capitalistas e trabalhadores compreenderem e negociarem a heterogeneidade do mercado de trabalho. As diferenças de gênero, que estão fundamentadas na construção social das diferenças biológicas entre homens e mulheres [e*], são ideologicamente naturalizadas. Colocando de outra forma, as diferenças de gênero são ideologicamente reduzidas à biologia nas sociedades capitalistas, e esta supostamente explicaria a inferioridade inerente das mulheres aos homens. A raça, é claro, não tem existência biológica, apenas uma realidade social e histórica. O racismo naturaliza [e essencializa] diferenças em aparências físicas, religião, linguagem e semelhantes. Dessa forma, a ideologia racista providencia um mapa mental poderoso para a experiência vivida contraditória da acumulação e da concorrência capitalistas. 

A estrutura do mercado de trabalho capitalista, com sua diferenciação entre os exércitos de trabalho ativo e de reserva [active and reserve armies of labor] e entre os ramos de produção relativamente de baixos salários/intensivos-em-trabalho e de altos salários/intensivos-em-capital, tanto compele quanto possibilita [26] capitalistas e trabalhadores a estruturarem racialmente a distribuição da força de trabalho pela economia. Em outras palavras, os seres humanos produzem e reproduzem a diferenciação racial, mas não sob as condições de sua própria escolha. O papel dos capitalistas na organização racial do mercado de trabalho e na promoção deliberada de divisões racializadas entre trabalhadores é bem documentado historicamente. O capital é confrontado com uma massa de trabalhadores, quase todos eles capazes de executar qualquer tarefa exigida, dado o rebaixamento dos níveis médios de habilidade e treinamento necessários para a maioria dos empregos. Os empregadores usam “características” raciais fictícias para determinar quais são os trabalhadores mais “confiáveis” e “eficientes” para diferentes tarefas [27]. 

Entretanto, as pessoas trabalhadoras, especialmente quando as organizações de luta coletiva contra o capital — como sindicatos — não são capazes ou não estão dispostas a confrontar os empregadores e o Estado, também tentam organizar a concorrência com outros trabalhadores em linhas raciais. Como Robert Brenner e Johanna Brenner argumentaram, “os trabalhadores não são apenas produtores coletivos com um interesse em comum — tomar coletivamente o controle sobre a produção social. Eles também são vendedores individuais de sua força de trabalho, em conflito uns com os outros por causa de empregos, promoções etc.” [28]. Quando a luta coletiva contra o capital e o Estado aparece como “irrealista”, “utópica”, os trabalhadores se voltam uns contra os outros. Os trabalhadores tentam construir socialmente a si mesmos como “brancos” para se protegerem das pressões do exército de trabalho de reserva sempre racializado e da ameaça de serem facilmente substituídos à medida que o capital desqualifica o trabalho — torna-o menos complexo, retira progressivamente a qualificação e habilidade necessárias para realizá-lo [f*] — através da fragmentação das tarefas e da mecanização [29]. Foi essa forma de concorrência entre trabalhadores no mercado de trabalho que incentivou os trabalhadores brancos altamente qualificados do pré-Guerra Civil [Americana] a projetarem “nos trabalhadores negros o que eles ainda desejavam em termos da ausência imaginada da alienação [imagined abscence of alienation], mesmo quando resistiam a serem tratados como escravos, ou como ‘white n*ggers’ [g*]” [30]. O resultado da concorrência contínua entre trabalhadores — que espelha a concorrência entre capitalistas — é a super-representação de trabalhadores não-brancos no exército de trabalho de reserva (com consistentes maiores taxas de desemprego, subemprego e pobreza) e nos setores mais intensivos-em-trabalho e de menores salários da produção [g*]. 

A vantagem racial das pessoas brancas está fundamentalmente enraizada nessa concorrência, enquanto elas procuram manter menores níveis de desemprego e pobreza, obter maior acesso à moradia e educação para seus filhos, e afins. Entretanto, a reprodução contínua e espontânea da raça por meio da acumulação e da concorrência enfraquece a capacidade coletiva dos trabalhadores de resistir às demandas do capital, criando uma espiral decadente de salários e condições de trabalho para todos os trabalhadores. Não é nenhuma surpresa que os “salários psicológicos da branquitude” [“wages of whiteness”] [h*] se tornaram no mínimo bastante minguados na era do neoliberalismo. Porém, uma unidade multirracial da classe trabalhadora não será algo produzido espontaneamente — demandará a reconstrução de uma cultura e organização de solidariedade [solidarity] [31]. Claramente, as lutas por demandas universais e que abarcam toda a classe — maiores salários, melhor segurança no trabalho e prevenção contra o desemprego, planos de saúde, assistência médica e aposentadoria não ligados a um vínculo empregatício etc. — serão cruciais para construir um movimento de trabalhadores multirracial. Toda medida que reduz a concorrência entre trabalhadores debilita o apelo da supremacia branca. No entanto, um movimento de trabalhadores multirracial não será construído apenas mediante lutas por demandas “universais”. A agitação e a propaganda “cegas-à-raça” [“color-blind”] feitas aos trabalhadores pelas correntes dominantes do movimento sindical de operários industriais das décadas de 1930 e 1940 permitiram que as divisões raciais entre trabalhadores se aprofundassem e contribuíram para o fracasso do movimento em organizar os trabalhadores do Sul [32]. Assim, demandas raciais específicas — como o desfinanciamento e desarmamento da polícia, o fim da segregação habitacional e educacional, o fim dos benefícios e da categoria de antiguidade [seniority] na fábrica e na indústria como um todo [33], ações afirmativas na contratação e promoção de funcionários, a legalização de imigrantes sem documentação e a construção de um caminho para sua cidadania, entre outras demandas do tipo — serão essenciais para construir uma solidariedade de classe multirracial entre trabalhadores. De forma simplificada: uma organização e uma política classista realmente efetivas — que sejam capazes de forjar unidade entre uma classe trabalhadora necessariamente racialmente heterogênea — deve incluir demandas e formas de organização antirracistas. 

NOTAS E REFERÊNCIAS (AUTOR)

  1. Asad Haider, Mistaken Identity: Race and Class in the Age of Trump (Londres: Verso, 2018). [Versão em português: Armadilha da Identidade: Raça e Classe nos Dias de Hoje. Veneta, 2019] 
  2. Justin Charles, Michael Esealuka, Cinzia Arruza, Haley Pessin, Brian Bean, “Socialists and the Uprising: An Activist Roundtable” Tempest https://www.tempestmag.org/2020/08/socialists-and-the-uprising/ 
  3. Dustin Guastella, “To End Police Violence Fund Public Good and Raise Wages,” Nonsite.Org (9 de julho, 2020) https://nonsite.org/policing-symposium/
  4. Eric Williams, Capitalism and Slavery (Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 1944) [Versão em português: Capitalismo e Escravidão. Companhia das Letras, 2012]; Oliver C. Cox, Caste, Class, and Race (Nova York: Doubleday & Co., 1948); Cedric Robinson, Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition (Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 1983). 
  5. Michael Walzer, “A Note on Racial Capitalism,” Dissent (July 29, 2020), https://www.dissentmagazine.org/online_articles/a-note-on-racial-capitalism and “A Reply” Dissent (7 de agosto, 2020), https://www.dissentmagazine.org/online_articles/a-reply-to-olufemi-o-taiwo-and-liam-kofi-br ight
  6. Friedrich Engels, The Condition of the Working Class in England (1845), https://www.marxists.org/archive/marx/works/download/pdf/condition-working-class-england .pdf [Versão em português: A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Boitempo, 2014]. 
  7. Essas características supostamente imutáveis [que constituem a raça] podem ser imaginadas tanto como biológicas, como eram das décadas de 1880 a 1940; ou culturais, como são desde os anos 1950. Ver Stephen Steinberg, The Ethnic Myth: Race, Ethnicity and Class in America, 3ª ed. (Boston: Beacon Press, 1989), Parte Dois, Introdução e Capítulo 4 para uma discussão de como a “cultura” se tornou uma característica herdada e imutável no pensamento racial do pós-Segunda Guerra Mundial. 
  8. Satnam Virdee, Racism, Class and the Racialized Outsider (Londres: Palgrave, 2014), p. 3. 
  9. A saudosa Ellen Meiksins Wood, uma estudiosa do capitalismo muito mais sofisticada do que Walzer, comete um erro metodológico semelhante ao argumentar que “igualdade sexual e racial… não são, em princípio, incompatíveis com o capitalismo”. Democracy Against Capitalism: Renewing Historical Materialism (Nova York: Cambridge University Press, 1995), p. 259. [Versão em português: Democracia contra capitalismo: a renovação do materialismo histórico. Boitempo, 2003.] 
  10. Olúfẹ́mi O. Táíwò e Liam Kofi Bright, “A Response to Michael Walzer” Dissent (7 de agosto, 2020) https://www.dissentmagazine.org/online_articles/a-response-to-michael-walzer]https://www.d issentmagazine.org/online_articles/a-response-to-michael-walzer
  1. Ellen Meiksins Wood, The Origins of Capitalism: A Longer View (Londres: Verso Books, 2002). [Versão em português: A Origem do Capitalismo. Zahar, 2001.] 
  2. Para uma excelente exposição e crítica da interseccionalidade, ver Holly Lewis, The Politics of Everybody: Feminism, Queer Theory, and Marxism at the Intersection (Londres: Zed Books, 2016), pp. 273-274. [i*
  3. Ver os ensaios coletados em Max S. Hering Torres, María Elena Martinez e David Nirenberg (org.), Race and Blood in the Iberian World (Zurique: LIT Verlag, 2012); e David Nirenberg, “Was There Race Before Modernity? The Example of ‘Jewish’ Blood in Late Medieval Spain” em Benjamin Isaac, Joseph Ziegler e Miriam Eliav-Feldon, The Origins of Racism in the West (Nova York: Cambridge University Press, 2009), pp. 232-264. 
  4. Os melhores estudos da invenção da raça na Virgínia colonial continuam sendo: Theodore Allen, The Invention of the White Race, Volume Dois: The Origins of Racial Oppression in Anglo-America (Londres: Verso, 2012), Edmund S. Morgan, American Slavery, American Freedom: The Ordeal of Colonial Virginia (Nova York: WW Norton & Company, 1975, capítulos 15-16); Barbara J. Fields, “Slavery, Race and Ideology in the United States of America”, New Left Review I / 181 (maio-junho de 1990), pp. 95-118. 
  5. Apesar de sua perspectiva teórica “pós-colonial”, Colonial Lives of Property: Law, Land and Racial Regimes of Ownership (Durham, NC: Duke University Press, 2018), de Brenna Bhandar, descreve como o direito moderno, e suas leis de proteção à propriedade, nos assentamentos de colonos brancos codificaram as ideologias racializadas que justificaram a expropriação de populações indígenas. 
  6. Por exemplo, David Roediger e Elizabeth Esch afirmam que “Do Manifesto Comunista em diante, o capitalismo recebeu por mais de 160 anos o crédito das correntes dominantes do marxismo por introduzir um ‘caráter cosmopolita na produção e consumo em todos os países’ […]. O valor surge do trabalho abstrato, não da acentuação das diferenças entre os trabalhadores”. The Production of Dif erence: Race and Management of Labor in US History (Nova York: Oxford University Press, 2012), p. 6. O entendimento de Roediger e Esch da teoria do valor, acumulação e concorrência são extraídos de Michael Lebowitz, “The Politics of Assumption, the Assumption of Politics” Historical Materialism, 14: 2 (2006). 
  7. Anwar Shaikh, Capitalism: Competition, Conflict, Crisis (Nova York: Oxford University Press, 2016); Howard Botwinick, Persistent Inequalities: Wage-Disparity Under Capitalist Competition (Chicago: Haymarket Books, 2018). 
  8. ibid., Botwinick, capítulo 3. 
  9. ibid., Botwinick, p.131.
  10. Para uma aplicação do trabalho de Botwinick sobre diferenciais de salários para raça por economistas profissionais, ver Patrick L. Mason, “Race, Competition and Differential Wages”, Cambridge Journal of Economics 19 (1995), pp. 545-567. 
  11. David McNally, “The Dialectics of Unity and Difference in the Constitution of Wage-Labour: On Internal Relations and Working-Class Formation” Capital & Class, 39:1 (2015), pp. 131-146. 
  12. Minha abordagem de raça como uma ideologia e um conjunto de práticas está enraizada no trabalho de Barbara Jeanne Fields, em particular, “Slavery, Race and Ideology” ibid., pág. 110-113. Ideologia [aqui] não é o equivalente a propaganda — ideias produzidas pela mídia, escolas e similares e “impostas” a uma população passiva de trabalhadores. Nem é equivalente a “doutrina” — um conjunto coerente e estável de crenças sobre o mundo. Em vez disso, a ideologia é o “vocabulário da ação e experiência do dia a dia” (p. 111). Dito de outra forma, as ideologias são os mapas mentais da experiência vivida de opressão. 
  13. Karl Marx, Capital, Volume I (Harmondsworth, Inglaterra: Penguin Books, 1976), Capítulo 6. [Versão em português: O Capital {Livro I}: crítica da economia política. O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2011]. 
  14. Marx, Value, Price, and Profit (Chicago: CH Kerr and Company, 1910), pp. 83-86. [Versão em português: Salário, Preço e Lucro. https://www.marxists.org/portugues/marx/1865/salario/index.htm]. 
  15. Marx, Capital, I, p. 280. 
  16. A noção de que as estruturas tanto compelem quanto possibilitam que os agentes atuem de determinadas maneiras é extraída de Alex Callinicos, Making History: Agency, Structure and Change in Social Theory (BRILL, 2004). 
  17. Ver Roediger and Esch, The Production of Dif erence, Capítulo 5. 
  18. Johanna Brenner and Robert Brenner, “Reagan, the Right and the Working Class” Against the Current (Old Series) 1, 2 (Winter 1981), p30. 
  19. Harry Braverman, Labor and Monopoly Capital: The Degradation of Work in the 20th Century (Nova York: Monthly Review Press, 1974) [Versão em português: Trabalho e Capital Monopolista — a Degradação do Trabalho No Século XX – 3ª Ed. LTC, 2012]. Infelizmente, a maioria dos leitores da obra-prima de Braverman tende a equiparar a desqualificação [deskilling] com a homogeneização do trabalho. O próprio Braverman deixou bem claro que a tendência de desqualificar [deskill] o trabalho constantemente diferencia os trabalhadores. 
  20. ibid., Roediger, Class, Race and Marxism, p. 68. 
  21. Ver Vivek Chibber, “Rescuing Class from the Cultural Turn” Catalyst 1;1 (Primavera de 2017).
  22. Ver Michael Goldfield, The Southern Key: Class, Race, and Radicalism in the 1930s and 1940s (Nova York: Oxford University Press, 2020). 
  23. Os capítulos 5-7 de Divided We Stand: American Workers and the Struggle for Black Equality (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2001), de Bruce Nelson, demonstram como a aceitação da antiguidade departamental [seniority departamental] nas indústrias por parte da CIO [Congresso de Organizações Industriais, hoje AFL-CIO, maior central operária estadunidense] preparou o terreno para a reprodução das divisões raciais entre os metalúrgicos e outros trabalhadores industriais organizados no período do pós-guerra. 

NOTAS DA TRADUÇÃO 

[a*] O termo utilizado por Marx, “dull compulsions”, invoca uma ideia de forças objetivas e desinteressadas que guiam a produção capitalista e a vida dos trabalhadores, mas não em um sentido mecanicista. Aqui, adotamos a tradução da Editora Boitempo, em sua última edição do volume I d’O Capital, que adota a expressão “leis naturais”. 

[b*] Para os leitores marxistas e latino-americanos desse texto: a compreensão de Post do funcionamento da concorrência e acumulação capitalistas via diferenciação que serão expostas a partir desse ponto parece derivar fundamentalmente, além, claro, de Marx; da teoria do “desenvolvimento desigual e combinado” proposta por Lênin em seu Imperialismo e desenvolvida posteriormente por Trotsky e outros intelectuais marxistas (Rosa, Mandel e os demais citados nominalmente pelo autor). No entanto, sabemos que o auge de uma teorização sobre a particularidade da reprodução do capital e da lei do valor via diferenciação e inter-dependência de capitais mais e menos produtivos é a Teoria Marxista da Dependência [TMD] (cf., sobretudo, Dialética da Dependência [Marini, Ruy Mauro. In: TRESPADINI, R. STEDILLE, J. P. Ruy Mauro Marini: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2011.]). Por isso, é especialmente interessante para nós, marxistas brasileiros, perceber a compatibilidade da perspectiva de Post com a TMD, vide nossas preocupações em relacionar dependência, superexploração do trabalho e racismo. 

[c*] O termo utilizado no texto original é “made redudant”, que tem o sentido tanto de que essa parte da força de trabalho se torna descartável para o capital quanto que ela é, efetivamente, demitida; estando os dois processos conectados. Por isso traduzimos como “se torna dispensável” e “é dispensada” invés de manter apenas uma expressão, como no original. 

[d*] Tradução livre a partir da versão d’O Capital utilizada por Charlie Post. A parte em que Marx cita “Bentham” parece ser uma referência ao economista utilitarista Jeremy Bentham e sua ideia de que o mercado era o local em que os agentes obtinham o que lhes era mais útil, trocando; portanto, satisfaziam seus interesses individuais. 

[e*] No original, “Gender dif erences, which are rooted in the social construction of biological dif erences between men and women, are ideologically naturalized”. Ao que dá a entender, o autor reconhece o gênero como tendo uma realidade biológica para além de social, enquanto raça, não. Traduzimos fielmente. 

[f*] No original, “desqualifica” é “deskill” e quer representar o fato de que o desenvolvimento da produção capitalista via mecanização torna cada vez mais fáceis os manejos do trabalho e da

tecnologia na indústria e exige cada vez menos qualificação, formação e habilidade/destreza. Entretanto, em português, “desqualificar” também tem um sentido moral, de menosprezar e/ou insultar. Por isso adicionamos a frase entre travessões, que não estava presente no original, para esclarecer o sentido da palavra. 

[g*] A expressão “n*gger[s]” é particular da língua inglesa americanizada e está atrelada a um sentido radicalmente pejorativo em relação a pessoas negras, quando utilizada por pessoas brancas; e tem um longo histórico de associação com a supremacia branca e o racismo nos EUA. Por isso, optamos por não traduzi-la. A expressão que o autor adota, “white n*ggers” se refere a pessoas trabalhadoras brancas sendo tratadas de forma similar, em termos de opressão e condições de vida, às pessoas negras. 

[h*] “Wages of whiteness” é uma categoria histórica do movimento negro estadunidense, especialmente do século XX, que designa os benefícios relativos que os trabalhadores brancos tem em relação aos trabalhadores negros no capitalismo estadunidense; às vezes meramente ilusórios, visto que funcionam a favor do capitalismo (ou da escravidão como sistema) e por isso contra os interesses dos trabalhadores brancos em última instância. No Brasil, às vezes a expressão foi traduzida como “salário psicológico”, acentuando esse caráter mais moral e psicológico dos benefícios dos trabalhadores brancos em relação aos negros sob o capitalismo; e a expressão “branquitude” como tradução para whiteness parece ser bem recente na literatura antirracista, tendo vindo ao Brasil de outra tradição teórica. Optamos por “salários psicológicos da branquitude”. 

[i*] Não há tradução para o português do ótimo livro de Holly Lewis que, além de oferecer uma crítica à interseccionalidade e a epistemologia pós-estruturalista que a fundamenta, empreende uma crítica geral ao feminismo pós-estruturalista e à teoria queer pós-estruturalista, elaborando novas sínteses teóricas e divulgando o marxismo queer [Queer Marxism]. No entanto, existe material de crítica marxista à interseccionalidade em português que parte da mesma perspectiva teórica que Lewis, a Teoria da Reprodução Social. Recomendamos principalmente a dissertação de mestrado Unidade, diversidade e totalidade: a Teoria da Reprodução Social e seus contrastes, de Rhaysa Ruas, que também funciona como uma síntese dessas críticas; e Feminismos interseccional e da reprodução social: rumo a uma ontologia integrativa, de Susan Ferguson publicado pelos Cadernos Cemarx. 

*Agradecimentos a Ellara e Dani Corrêa pela ajuda.

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